Bruno Badaró

Flora, técnica mista, 80 x 100cm, 2019
Flora, técnica mista, 80 x 100cm, 2019
Rainha, técnica mista, 100 x 120cm, 2019
Rainha, técnica mista, 100 x 120cm, 2019

Texto extraído de material do artista.

Seu trabalho, como definiria Gómez-Peña, é um eterno estado de "vir a ser". Um permanente devir artístico. Do graffiti ao stencil. Dos stickers ao flash mob. A veia artística de Badaró pulsa na corrente sanguínea da brasilidade. Amiúde, estão presentes em suas ilustrações elementos da fauna, da flora, da culinária, do folclore, do pertencimento brasileiro em suas várias nuances e seus múltiplos contrastes. A vanguarda de Badaró impõe-se como fundamental inspiração em seu desenvolvimento. Do cubismo de Braque, utilizando formas geométricas para decompor as cenas, às feições de Cézanne, que enxergava a pintura em forma de cones, esferas e cilindros, Badaró subleva-se desatinadamente à ousadia de configurar mosaicos aleatórios extraídos de seus planos de fundo e acoplá-los ao rosto de seus personagens. É possível ver um peixe sobreposto em uma imagem harmonicamente cênica a desferir luzes iridescentes de seus olhos, ou ainda notar a desinência de seu desprendimento artístico ao incluir corpos e objetos aparentemente inestéticos à composição das imagens, a fim de desatar o compromisso de fidelidade com a aparência real do que é posto em tela (para que não morramos da verdade). Badaró não representa, mas sugere a estrutura dos corpos. Retrata-os como se nos movimentássemos em torno deles,
observando-os sob todos os ângulos visuais, por cima e por baixo, percebendo todos os planos e volumes, tridimensionalmente, o que nos remete ao surrealismo de Apollinaire, onde é subvertido o sentido
racionalista dos padrões da normalidade, tal qual Breton, Buñuel ou Dalí.


Nesta abstração, o transporte de Badaró da loucura enlevada à criatividade produtiva - como sublinhou McQuillan - se consubstancia, também, à inspiração de Basquiat e suas intervenções, do SAMO ao
neoexpressionismo urbano. Nos primeiros vislumbres à tinta dos TagRetos da intransigência por ele lançada nos muros de São Paulo veio o surgimento de seus primeiros esboços iconográficos. O
emparedamento paulistano está para ele como Albright-Knox esteve para Miró em seu Carnaval do Arlequim. Foi a epifania das intervenções urbanas que lhe remeteu as hipóteses de sua elucubração contínua, volúvel, categórica e intensa. Peremptoriamente intensa. Há nele a especialidade de variegar os tons vívidos e exclamativos de Van Gogh, ou dos nenúfares de Monet, bem como notam-se os traçados curvilíneos de Tarsila em seu Abaporu. Verte de sua enxurrada
imaginativa, não apenas em manifestação colorida e extravagante, mas nas "falas" de seus conteúdos um agigantado sentido de pertencimento pátrio e compromisso histórico, os mesmos de Frida e Rivera, que promoviam a remoção do sentido burguês da arte confinada a carpetes e expunham pelos subúrbios, pelo centro, pela urbe onde trafegam os populares, onde acontece a vida, maciçamente. Se toda forma ou ato de comunicar opera através de um corpo a outro, Badaró e seus precursores de alma escancarada e mente igualmente aberta estão a guindá-lo a um patamar exponencialmente mais alto: O de comunicar a todos os corpos, explorando todas as formas, fazendo do ambiente metropolitano uma galeria a céu aberto, redarguindo a verdade mortificante e oferecendo o fulgor contemplativo da arte a quem queira dela viver.

2019 Bienal Black Brazil Art | Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Webnode
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora