Lia Braga
Tenho me dedicado a uma pesquisa em poéticas visuais na qual os materiais texteis possuem destaque.
No início costumava conjugá-los a formas modeladas em cerâmica, no intento de produzir uma relação de alteridade perceptível ao tato e a visão. Com o passar do tempo e das experiências, a aproximação entre têxteis e cerâmicos cedeu lugar a uma investigação sobre as possibilidades plásticas de algumas técnicas de tecelagem muito associadas ao artesanato produzido por mulheres em ambientes domésticos. Minhas pesquisas, então se voltaram para práticas como tricô, crochê, costura, bordado...
Questionamentos sobre as concepções de feminino emergiram, visto que, afastados de contextos utilitaristas, os têxteis, como os apresento, remetem muito pouco ao universo doméstico onde se originam. O gineceu invade a àgora.
Meus crochês,tricôs, feltragens e acumulações se colocam no espaço público, mas ainda preservam particularidades associadas e por vezes impostas a condição feminina: fragilidade, lassidão, corporeidade exacerbada.Sendo assim exibem, sem contrangimento, um discurso do corpo, que se revela em conformações orgânicas e principalmente nas maleáveis instabilidades capazes de evocar sentimentos arcaícos.