Mariana Souza

RACISMO RE-VELADO

Porto Alegre-RS e Salvador-BA

Racismo Re-Velado da fotógrafa Mariana Souza discursa sobre amarras e estigmas que são colocadas sobre os corpos das mulheres negras, demonstrando como funciona a imposição do lugar que devem ocupar; subjugadas, estereotipadas e objetificadas. O trabalho é autorepresentativo, mostra como o racismo é sentido no corpo da artista e das mulheres negras do Brasil. A série fotográfica expõe o racismo sofrido pela artista em seu 1 ano de morada, no Rio Grande do Sul, e busca ser uma resistência às opressões cotidianas.

O processo artístico para criação das fotografias do Racismo Re-Velado foi estruturado pelas vivências das sensações sofridas no corpo da fotógrafa pelas inúmeras situações de racismo. Para trazer essas sensações e opressões para o trabalho fotográfico a artista aprofundou o seu conhecimento sobre a temática, lendo escritas das ativistas e escritoras; Audre Lorde, Bell Hooks, Conceição Evaristo e Djamila Ribeiro. Produzir para não ser mais silenciada foi o ponto de partida para a construção do projeto fotográfico, sair do lugar que foi imposto de submissão e subalternidade, disputar pelo poder, pelo seu lugar de fala como mulher negra e transformar as sensações que pairavam no corpo (angustia, raiva, insegurança e tristeza) consequentes das situações de racismo em que passou, em respiro e desabafo. A produção artística da fotógrafa se torna um apoio e uma ferramenta impulsionadora de força para lutar contra o racismo de todo dia, se emponderar. O emponderamento vem disso, de reconhecer, entender essas opressões, passar por elas e conseguir se erguer para ocupar espaços e levar reflexão para a sociedade. Vivemos numa sociedade racista e patriarcal onde as pessoas são racializadas e tratadas socialmente conforme o seu gênero. Para dar voz para as mulheres negras, trazer uma representatividade e falar sobre essas opressões cotidianas a artista trabalhou com recursos físicos e visuais que se estendem da utilização do figurino até as locações onde as fotos foram realizadas. O uso do espelho acoplado ao rosto da intérprete tem a função de não pessoalizar, não deixar o público trazer a atenção para um rosto ou uma identidade. Já que a intenção é a representatividade
de mulheres negras. O espelho também é utilizado para jogar com as reflexões do que engloba o mundo dessas mulheres, o lugar que ocupam e como os seus corpos sofrem e se contaminam com as
opressões. Concomitante a isso, o corpo nu da intérprete é envolto em plástico filme para criticar e pontuar a sensualidade sexualizada objetificada impostas aos corpos das mulheres negras e também a
sensação de uma carne barata, banalizada. A hipersexualização desses corpos possui uma dualidade amarga, de um lado se tornam objetos de prazer patriarcal. Tendo símbolos e características - barraqueiras, agressivas e sexualmente "fogosas" -, baseadas em construções racistas, o que impacta na forma de como as relações afetivas dessas mulheres são construídas. O que contribuí também para a solidão da mulher negra. Opressão tão latente que associa essas mulheres como seres humanos indignos de afeto, respeito e que possuem menor valor, comparadas as mulheres brancas.

Dentro da composição fotográfica também foi pensando em como as composições criadas com e no corpo da intérprete revelam as múltiplas facetas do racismo, e como a expressividade do seu corpo
pode expor a resistência contra as opressões, visibilizar as mulheres negras e potencializar a reflexão de outras mulheres.
As fotografias foram realizadas em 2018, no Rio dos Sinos, em São Leopoldo e nas Ilha das Pedras Brancas (Ilha do Presídio), em Porto Alegre. Os locais foram escolhidas pelas histórias que os
marcaram. O Rio dos Sinos carrega tragédias pelos alagamentos históricos e constantes e a Ilha das Pedras Brancas está abandonada há mais de 20 anos. A ilha foi ponto para a Revolução Farroupilha,
depósito de pólvora, laboratório de pesquisa da peste suína e por último uma prisão. O Racismo Re-Velado precisava de locações com destroços, ruínas, peso e natureza para compor com as sensações
sofridas nos corpos de mulheres negras ao passarem pelas situações de racismo. Sensações que nós fazem ruir por dentro, abala a autoestima e nos privam de ocupar espaços.
O trabalho é composto por seis fotografias que foram impressas em tecido voil transparente pela técnica sublimação, no tamanho 60x90. As fotos são apresentadas enfileiradas em tríplice no intuito
de jogar com as sobreposições de imagens, criar outras imagens, outras formas de olhar e ângulos.

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