"Não é só uma questão de visibilizar a mulher, mas sim, de ouvi-la através da arte".

Gestora cultural, pesquisadora e curadora independente desde 2003, membro do iCI (independent curators international) desde 2016 e tem especialização em criação e gerenciamento de projetos culturais para museus e centros culturais e é membro associada WAoFP. Trabalhou em galerias de arte e leilões especializados em arte naif e como representante de coleções particulares de arte. Tem envolvimentos em questões do ativismo comunitário dentro e fora do Rio Grande do Sul e em Ongs de Comunicação Comunitária e Mídias Comunitárias. Graduada em História e Museologia, tem pós-graduação em educação para a diversidade e diversidade de gênero bem como, atua nos direitos da mulher e na valorização do empoderamento feminino e na formação de jovens pela democratização e acesso à informação.

Mulheres (in)Visíveis


O sucesso de políticas públicas para superação das desigualdades sociais só é possível hoje, através da educação e de aparelhos e ferramentas culturais presentes em nossas metrópoles. Uma política cultural verdadeira, que incorpore a diversidade da vida social, só se faz com cultura para todos e não privilegiando alguns grupos minoritários. Pensando assim, a proposta da Bienal Black Brazil Art que vem sendo delineada através de um mapeamento das artes afro-brasileiras no sul do país, resolveu dar significado através de uma forma plástica e com um tema bastante atual, que é a (in)visibilidade de mulheres, principalmente as negras, no cenário das artes.


Com todo o advento que a tecnologia nos permite ainda assim, existe uma camada muito espessa da sociedade desprovida do acesso e da inserção desses protagonistas no universo das artes. Muitos seguem desconhecidos ou associados a grupos marginalizados e outros tantos, esquecidos em suas raízes. A questão do gênero também está relacionada à parte mais íntima do ser humano: a identidade. A identidade individual está constantemente em conflito com o "ego social", uma tensão que a arte pode destacar - tanto por trazer elementos autobiográficos como por refletir a situação de comunidades ou grupos maiores - a sociedade. As artes que retratam (sob qualquer forma) um assunto tão sensível e íntimo quanto a identidade de gênero, têm um impacto profundo sobre os espectadores e podem levá-los a reconsiderar sua visão, seu olhar ou até mesmo sua própria identidade.


 

A questão de gênero é um bom exemplo das representações óbvias que limitam nossa visão da realidade - a divisão de transgênero/cisgêneros/não-binários/binário - a divisão dos papéis de gênero e sua falsa competição. A arte pode tornar essas discussões mais elaboradas e levar nosso pensamento a ir além das normas, hábitos, representações binárias óbvias que muitas vezes limitam nossa visão da realidade, mas também nossa imaginação. A partir dai, damos um passo para identificar a presença das mulheres na diversidade artística.


O reconhecimento da presença das mulheres como sujeitos na história da arte, o questionamento da ordem binária normativa do homem / mulher, a redefinição dos limites ligados ao gênero e estabelecidos pela sociedade, os debates sobre orientação sexual e a heteronormatividade e o reconhecimento das identidades LGBTI são elementos importantes nos debates atuais - e não poderiam estar de fora das narrativas artísticas. Com isso, a participação da população em geral, principalmente das mulheres negras, será crucial medir e mediar nesta bienal.


 

A participação no processo cultural, artístico e científico, constitui a espinha dorsal dos direitos humanos relacionados à cultura. Entender o acesso e a presença dessas mulheres no universo das artes, nos permite conectar a cultura com outros direitos, como acesso à informação, liberdade de opinião e expressão, educação, autodeterminação e associação. A Bienal Black Brazil Art não apenas criará mecanismos para reconectar essas mulheres e suas criações em cenário nacional, como estimulará jovens mulheres artistas a desenvolver seu potencial criativo e envolverá o fazer artístico referente à aprendizagem, instrução e programação baseada nas artes visuais tangíveis. Incluindo capacitação formal e não formal e treinamento em torno da dança, música, teatro e artes visuais, design, moda, fotografia, vídeo, cinema e animação, entre outros.


Com isso, abrimos os braços para acolher novos pensamentos sobre essa inclusão que só poderia ser unificada através de expressões artística e convidamos a comunidade das artes para se juntar nesse processo com novas possibilidades.


Patrícia Brito Knecht, Curadora.

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